março 30, 2006

Dores de dantes

Era um rei que tinha tudo e podia tudo. E que, por isso, estava farto. Mergulhado em tal enfado, dava-lhe para as crises de nostalgia. Um dia, a memória trouxe-lhe o sabor das tartes de framboesas silvestres que comia em criança. Mandou vir o melhor cozinheiro do reino. Queria – na realidade ele disse «quero»- provar outra vez o gosto de antigamente. Decretou que o cozinheiro confeccionasse uma tarte escrupulosamente cumpridora da receita da sua infância. Queria – «quero» – que lhe soubesse ao mesmo. Se não? cortava-lhe a cabeça. O cozinheiro respondeu que então melhor seria ir já chamando o carrasco. Por mais que ele fosse fiel à prescrição original, nenhuma tarte de framboesas silvestres lhe resgataria os mesmo sabores da infância. Consta que o rei o despediu. Sumariamente.

Ninguém se pode banhar duas vezes nas mesmas águas do mesmo rio. Não tanto porque Heraclito assim o tenha proclamado. Mas porque estão poluídos os rios da nossa infância.

Dizem que os rios arrastam consigo para o mar os reflexos dos sítios por onde passam. Também na nossa vida, vamos arrastando reflexos, sedimentos, areias para um oceano feito de memórias. Umas tão profundas que só revolvidas por uma tempestade algum dia chegarão à tona. Outras andam por ali à mão de pescar. Ou vêm dar serenamente à praia, embrulhadas nas ondas, arrastadas nas correntes: basta a vibração de um som, um cheiro especial, o sabor de um gelado, uma chuva oblíqua a bater na vidraça, um limpa-pára-brisas que guincha, tábuas de um soalho que rangem?

Jorge Luís Borges contava que, um dia, o pai lhe explicou como, na verdade, não conseguimos guardar as memórias de infância. Guardamos apenas a memória da primeira vez que nos lembramos delas. São sempre memórias em segunda mão. Memórias de memórias. Turvadas por pontos de vista de entremeio e outros pontos acrescentados. Afinal, todas as memórias são falsas. Se calhar, como os sonhos, se os contamos e os traduzimos por palavras, tiramo-los da twilight zone, tornam-se outra coisa. Ainda bem que existem fotos, registos e as cicatrizes que nos fazem acreditar que o passado existiu mesmo.

Depois há umas memórias da infância profunda que, apesar de desprezadas pela nossa consciência, continuam retidas, continuamente a dar sinal de si, continuamente a apregoar-se, apesar de serem inúteis como um noticiário de véspera. Ou inoportunas como quem tenta impingir um copo de água a um homem prestes a afogar-se. Ou estreitas, inacessíveis, difíceis de consultar como folhear o jornal em dia de temporal. E chega de metáforas. Memórias são o reino da redundância. O domínio da irrelevância. Limitam-se a estar lá e pronto. Outras acrescentam-nos qualquer coisa. Outras, ainda que remotas, fazem-nos voltar a sentir uma dor já revogada e ainda conseguem pôr-nos a chorar. São dores de dantes.

Imprudente este exercício de contemplar o poço das memórias. Se olhamos muito para ele arriscamo-nos a que ele comece a olhar muito para nós. E ficamos ali, à beira do precipício do sentimentalismo, atraídos pelo abismo de nostalgias retrógadas, ingenuamente reféns de pensamentos banais, enredados no labirinto da saudade. É que as recordações de infância, às vezes, levam-nos aonde não somos realmente chamados. Há quem diga que a melhor maneira de sair de um labirinto é ir virando, em cada encruzilhada, sempre à direita. Sem hesitar nem olhar para trás.

Há pessoas que transportam as migalhas de felicidade do passado como se fossem condecorações. E as preservam intactas, ano após ano, quem sabe até ao fim das suas vidas, com a destreza de quem carrega um ovo em cima de uma colher por montes e vales. Afinal, é aquilo que de mais adquirido temos na vida, as nossas memórias, os nossos próprios dejá vù. Esses já ninguém nos pode tirar.

Álvaro Cunhal falou em, pelo menos, duas entrevistas de uma recordação de infância que nunca mais o largou. Era miúdo, tinha uma fisga e, um dia, atirou a umas andorinhas. Acertou numa. E, orgulhoso, trouxe o troféu da batalha, inerte, pendido, a mostrar ao pai. Em lugar de lhe elogiar a pontaria, o pai repreendeu-o. Ficou-lhe para sempre a lição associada à lembrança: nunca matar uma andorinha.

São assim, desconexas, caóticas, desorganizadas, sem ficheiro definido, memórias que vão e vêm, como as associações de ideias. Sempre que pisamos o teclado preto e branco da calçada portuguesa lembramo-nos de jogos antigos de regras implacáveis e consequências mágicas. Se conseguíssemos percorrer o caminho, a contornar os desenhos, sem pisar as pedras pretas? mas havia sempre uma mão que nos puxava, que nos forçava a infringir a lei suprema dos passeios.

Sempre que viajamos no banco de trás de um carro, lembramo-nos das caretas com que brindávamos os ocupantes dos outros carros. E aquele invólucro de vidro e caixilharia metálica era o nosso escudo protector, à prova de reprimendas e do mau humor dos condutores. Sempre que olhamos o movimento pendular de um baloiço lembramo-nos de acreditar que, com mais um impulso, conseguiríamos fazer uma rotação completa de 360 graus, e a lei da gravidade ainda nem sequer tinha sido inventada.

Sempre que as formigas nos saqueiam a despensa, lembramo-nos como outrora lhes engarrafávamos os carreiros, com pedras e outros obstáculos, e lhes congestionávamos a entrada nos formigueiros. E sentíamo-nos poderosos imperadores, bastava um dedo para alvoroçar toda uma comunidade de patinhas, há um segundo atrás, ordeiras e enfileiradas.

Quando um raio de sol nos corta os cortinados, lembramo-nos de como aquele foco de luz nos revelava um universo de poeiras brilhantes e partículas voadoras, que se moviam em várias direcções? Qualquer coisa de misterioso, de extra-terrestres devia haver naquele mundo oculto, que aparecia e desaparecia, sob os caprichos das sombras. Ou das nuvens.

Os miúdos de hoje podem até não ter tempo para contemplar partículas e ácaros voadores. Mas sabem que, há meses, depois de 7 anos e 4600 milhões de quilómetros, uma cápsula espacial aterrou no deserto do Utah com um colher de café de poeiras recolhidas da cauda de um cometa. E que ficaram presas numa matéria quase etérea, o aerogel, chamada fumo azul.

Os miúdos de hoje podem não saber o que é um polícia sinaleiro. Mas todos sabem o que é um arrumador.

Os miúdos de hoje podem não saber o que é uma mercearia. Mas todos sabem o que é um hipermercado.

E questionam-nos, com olhos de assombro: como foi possível sobrevivermos a uma infância sem playstation2 nem PSP, sem game boy advanced ou o game boy SP, sem DVDs, sem GoogleEarth, sem Runscape, jogo interplanetário na internet que põe em rede miúdos de todo o mundo, sem 60 canais por Cabo, sem telemóveis tipo canivete suíço, (que servem para tudo, para além de telefonar), sem MP3s, sem ATLs no fim das aulas?

E, por puro marketing materno, nem vale a pena confessar-lhes que andávamos de bicicleta sem capacete nem cotoveleiras, que quando estávamos constipados, as nossas avós resolviam o assunto com Vick Vaporuc e uns tubos que se enfiavam no nariz e cheiravam a eucalipto (e outros bálsamos que hoje arrepiam os alergologistas), que andávamos no banco da frente dos carros, e soltos lá atrás, sem cinto, nem cadeirinha especial.

Mas enfim, lá se foi vivendo. Sem memórias. Só com futuro pela frente.

E, hoje, porque descer até às memórias não custa nada. Dispensamos o elevador. Seguimos pelas escadas. Rolantes.

In Revista Visão de 30.Mar.2006 - Por: Ana Margarida Carvalho

W. B. Yeats (trad. de Miguel Esteves Cardoso)

Se eu tivesse as sedas bordadas do céu.
Com bainhas de luz de ouro e de prata.
As sedas azuis e sombrias e escuras.
Da noite e da luz e da meia-luz.

Deitava-as todas aos teus pés.

Mas eu sou pobre e só tenho os meus sonhos.
Deitei-os todos aos teus pés
Pisa com cuidado,
É nos meus sonhos que estás a pisar.

W. B. Yeats (tradução de Miguel Esteves Cardoso)

Feira da Ladra

Romper da manhã, Feira da Ladra. Na última terça-feira fui à feira vender tralha, coisas do arco da velha que tinha para aqui a ocupar espaço e que não interessam nem ao menino Jesus, livralhada, presentes para esquecer que me foram oferecidos no Natal, enfim, bugigangas. Montei escritório junto ao gradeamento do jardim de Santa Clara, mesmo em frente à esplanada do café Panteão e ao Tribunal Militar. Instalei-me ao lado do João Vinagre, um dos vendedores mais batidos da Feira e, simultaneamente, empreiteiro da construção civil. Tratei de puxar conversa, o que não foi muito difícil. Ainda não tinha acabado a primeira frase e já ele tinha desatado a falar. Levantou-se pouco depois da cadeira, branca e de plástico como as das esplanadas, dirigiu-se à carrinha estacionada em frente, enfiou a mão no bolso de dentro do casaco e deu-me um cartão. Quando não está na feira remodela apartamentos, repara telhados, afaga soalhos, aplica flutuantes, faz envernizamentos, tectos falsos, estuques, pinturas, vidros duplos, divisórias, resguardos para banheiras e polibans, conserta estores, marquises, etc. Faz orçamentos grátis e pode-se pagar em prestações. É possível que já tenham ouvido falar dele: o Vinagre é um daqueles jeitosos que invade as nossas caixas de correio com papéis de publicidade. E é também uma das pessoas mais conhecidas da Feira da Ladra. Aliás, o Vinagre é a própria Feira da Ladra. Se eu fosse o José Gil ou o Eduardo Lourenço, diria que a Feira da Ladra é o nosso país em ponto pequeno, é um Portugal em miniatura. Está lá a Igreja, o exército, o tribunal, o hospital, a Casa Pia e, claro, a quinquilharia típica das casas portuguesas.

Se forem à Feira perguntem pelo Vinagre ou, então, pelo “otário da Feira da Ladra”. Assim mesmo, palavra de honra. O próprio Vinagre já não liga ao insulto, já não se importa, já tanto lhe faz. A história tem muito anos, remonta aos primórdios da década de 80. Ouçamo-lo, de cigarro entalado entre dois dedos: “nas obras, às vezes, apanham-se coisas que uma pessoa nem sabe o que é que tem nas mãos. Por exemplo, o lixo deixado para trás pelos antigos donos das casas que estou a remodelar. É aí que vou buscar muita coisa que depois vendo na feira: papéis velhos, brinquedos partidos, bibelôs, ferramentas e objectos de cozinha enferrujados, etc. Numa dessas casas encontrei, entre outras coisas, não sei bem se era o canhoto de um cheque, se uma cédula, uma apólice, sei lá, não quero saber e, se querem saber, tenho raiva de quem sabe, bom, era uma espécie de papel moeda que circulava na Índia. Sei é que vendi o papel por cem paus, julgando eu que estava a fazer um dinheirão. Mais tarde, num leilão, o gajo vendeu aquilo por 17 mil contos. A história até veio no jornal, na primeira página, em letras grandes: «Otário da Feira da Ladra». A partir daí nunca mais tive sossego. No princípio ainda respondia, chateava-me, chegava a vias de facto, agora não. Já tenho feito bons negócios, nada que se pareça, lá está, com os 17 mil contos do outro, mas têm compensado um pouco, como o disco de vinil dos Beatles, aquele disco todo branco [o White Album], tinha era um número de prensagem baixo, vendi-o aqui vai para dois anos. Sabem por quanto? Quinze mil euros... três mil contos, na moeda antiga. E singles? Dos Queen, por exemplo, já tenho vendido por 400 e 500 contos. Há vinis a render muito dinheiro, muitos milhares de contos. O vinil é do que se procura mais na Feira. De resto, na Feira, agora só se encontra é lixo, só se vende é lixo, não há nada que preste [teve um estremecimento de cólera, beliscou a asa do nariz e alargou o olhar pelo Largo do Mercado de Santa Clara]. Sabes onde é que ainda encontras coisas boas, coisas de valor?, em Algés, aos domingos. Hoje em dia o que é bom vende-se em Algés. Em Algés encontras as mesmas pessoas que na Feira da Ladra só que mais bem vestidas. Isto aqui é só fachada. Estão lá os mesmos gajos mas com outra personalidade. Eu só queria era que a Câmara Municipal voltasse outra vez a subsidiar obras, recuperações de prédios antigos, com o RECRIA. Há aí muito velhote a morrer e os herdeiros, quando não são conhecedores do que é bom, deixam muita coisa de valor pelo caminho. Eu às vezes deito os bancos do carro e ando aos contentores das obras, nas madrugadas de terça e de sábado. O problema é que a Câmara agora parou com o RECRIA. Sabes quem é que também tem a culpa? As lojas dos 300 e as lojas dos chineses...”

Enquanto o Vinagre continuava o monólogo, entrecortado pelo som do rádio, sintonizado na Seixal FM, eu ia olhando e inspeccionando o que ele tinha para vender. Livros vários, uns mais conhecidos, outros de que nunca ouvi falar, obras com títulos exóticos e anacrónicos, com as páginas amareladas, casca de ovo, cheirando a um pó muito velho: O Astro, de Janet Clair, o romance que serviu de base à telenovela com o mesmo nome; Ela quis viver os seus sonhos, de Luciana Peverelli; Os filhos da droga, da Christiane F. (13 anos, drogada, prostituta...); Bastardos ao Sol, do Urbano Tavares Rodrigues. Coisas tão bizarras como os Acórdãos do Tribunal da Relação de Luanda ou o Projecto de Convenção destinada a evitar as duplas tributações (edição dos cadernos de ciência e técnica fiscal). Isto para não falar do boletim mensal da Sociedade de Língua Portuguesa, do dicionário de Inglês Comercial ou dos imprescindíveis Aspectos da Produtividade na Videira e Botânica Criptogâmica. Na verdade, se quisermos perceber os hábitos de leitura dos portugueses na década de 70 e de 80, se quisermos conhecer os livros que formaram gerações de portugueses, portugueses que viveram a Guerra Colonial, o 25 de Abril, a Guerra Fria, conhecer profundamente os portugueses que hoje mandam no país, basta percorrer a Feira da Ladra. Académicos, especialistas em Antropologia, em História, em Sociologia, investigadores das Ciências Sociais, das Ciências Humanas, abandonem os gabinetes, renunciem ao conforto dos centros de investigação, larguem os livros, desamparem as bibliotecas, vão à Feira da Ladra. Está lá tudo. Os livros do Pitigrilli, do Eric Ambler, do Evan Hunter, do Edgar Wallace, os livros de guerra do Sven Hassel, os romances de Stefan Zweig e do Alexandre Dumas, os policiais de Jack Higgins e, de uma forma geral, as mais variadas edições do Círculo de Leitores ou das Selecções do Reader’s Digest. Há os clássicos do marxismo, que inundaram a década de 70, logo a seguir ao 25 de Abril: Que são as Classes e a Luta de Classes?, de A. Ermakova e V. Rátnikov, das edições Progresso, ou O Materialismo Histórico, de A. Spirkine e O. Yakhot, edição da Estúdios Cor (colecção Breviários de Cultura), isto para não referir as inesgotáveis e infatigáveis edições da Seara Nova (Porque se Revoltam os Estudantes é apenas um exemplo), as obras completas do Lénine ou a História da U. R.S. S., do camarada Louis Aragon.

Agora, como antes, os leitores portugueses sentem um grande fascínio pelos “Grandes Livros”, como O Grande Livro do Gato ou As Grandes Evasões do Passado; pelas enciclopédias, como a Enciclopédia da Vida Sexual ou O Mundo em que Vivemos; pelos fenómenos do desconhecido, como os Grandes Mistérios, A Maldição dos Faraós, O Mistério das Bermudas ainda de Pé ou Mistérios OVNI: O Que Lhe Andam a Esconder. Os leitores portugueses do que gostam mesmo é de livros com os Recordes da Natureza, livros que ensinem Como Interpretar Os Seus Sonhos ou A Linguagem do Corpo: gestos e posturas que revelam a sua personalidade. Mas como não é só de literatura que vive um homem, o João Vinagre não vende apenas livros, vende também exemplares da revista Xis, aquela distribuída aos sábados com o Público, vende postais de cinema, daqueles que qualquer bípede pode adquirir, de borla, nos cinemas do Dr. Paulo Branco, como o Monumental ou o King, vende teclados de computador, vende o word perfect para DOS, vende calculadoras, borrachas usadas, afias, bombas para encher os pneus das bicicletas, bonecos dos ovos de chocolate kinder surpresa e da PEZ, roupa em segunda mão, discos vinil, como Tonight I’m Yours, de Rod Stewart, o Hotel California, dos Eagles, ou singles dos Salada de Frutas, maçanetas, molhos de cabides a 50 cêntimos cada, carregadores e capas de telemóvel, cassetes de vídeo caseiras, com filmes gravados da TV (reparei em Cocktail, com Tom Cruise), maços de meias (sem defeito, 100% algodão), uma TV antiga, mais defunta que o Camões. “Mas trabalha com uma granda pinta e o resto é música”, disse-me o João Vinagre. Depois, limpou os lábios com as costas da mão esquerda e começou a atacar uma sandes de carne assada.

Por João Pedro George - in http://esplanar.blogspot.com/2005_04_01_esplanar_archive.html

Hoje é uma merdas: MRP

A MRP (parece que não se pode usar o nome - aliás, parece que não é nome mas sim marca registada, assim como marca de laxante ou de papel higiénico) é uma "escritora" de sucesso em Portugal... E que faz uma "escritora" quando não vende livros? Tenta proibir os livros dos outros!!! Ora toma!!! O livro, a que desejo grande sucesso, chama-se (Atenção: estou a citar, pelo que espero não violar nenhuma marca registada): Couves & Alforrecas: Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto. O autor a ser queimado pela Inquisição chama-se João Pedro George. A editora é Objecto Cardiaco. E é culpa deste energumero que as vendas da MRP estejam a ser o que merecem: "após a publicação de «Couves & Alforrecas: Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto» no «blog» Esplanar - o que deu origem a uma notícia no jornal 24 Horas -, as vendas dos livros da autora sofreram uma forte quebra. "Ora aqui está uma prova da força dos blogs!!! Um blog de que a maioria dos lusos nunca ouviu falar decide as vendas da MRP. Ela, tadinha, mais a sua editora, queixam-se de ele "«ter aproveitado do nome da pessoa para ganhar dinheiro e a ofender, o que não é justo num Estado de direito». Tambem eu quero!!! Agora que lhe chamei merdas espero ser processado e ganhar muito dinheiro!!! Merdas, merdas, merdas!!!

In Merda de País - http://merdadepais.blogspot.com

março 29, 2006

Vergonhoso...

Margarida Rebelo Pinto e "Oficina do Livro" requerem contra João Pedro George e Objecto Cardíaco uma providência cautelar não especificada com a finalidade de impedir a distribuição e venda da obra "Couves & Alforrecas: Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto".

Passa-se isto - pasme-se - a um mês das comemorações do 25 de Abril de 1974.

História da Fundação Eugénio de Andrade

"Há uns anos já que aos Domingos, ao principio da tarde, costumamos encontrar o Eugénio de Andrade num café perto do Jardim de S.Lázaro. Roda de amigos, pequena mas fiel, uma espécie de tertúlia à maneira do Porto antigo, que se junta cedo porque o poeta almoça pelo meio dia.

Em Fevereiro do ano passado, num desses encontros, Eugénio de Andrade falou-nos de um texto que havia escrito - uma espécie de rendição ao Porto. Apesar de nos prevenir de que talvez não coubéssemos todos na sala, fomos a sua casa, ali ao lado e, durante minutos, ouvimo-lo dizer “um estilo de ser Português”. A leitura, a qualidade do texto, a sua sensível observação do Porto tocaram-nos profundamente. Já na rua, apesar da chuva miudinha, ficámos uma boa meia hora a conversar, sobre o texto, mas também sobre o autor e o espaço em que vive. Comentamos que, noutro pais, este homem com esta obra, disporia com certeza de uma casa adequada. Em Portugal fazem-se casas–museus aos mortos. E aí resolvemos meter mãos à obra.

O Eugénio de Andrade precisava de uma casa com espaço para trabalhar, receber os amigos e estudiosos, albergar livros, quadros, cartas e manuscritos. O Porto devia-lhe: escolhera a cidade há quarenta anos para viver, os seus escritos sobre ela são dos melhores que conhecemos. Pensamos, depois, em integrar nessa casa uma instituição para estudo e divulgação da sua obra.

Mercê da boa vontade do Eng. Armando Pimentel, membro da actual vereação da Câmara, conseguimos uma entrevista com o seu Presidente, Dr. Fernando Gomes, que acolheu com entusiasmo a ideia. Também o Eugénio de Andrade, depois de alguma hesitação, acabou por aceitar a fundação que teria o seu nome, com a condição de não fazer parte dos seus corpos gerentes. Pouco tempo depois surgia a casa do Passeio Alegre. Tinha, iniciado a Fundação
Eugénio de Andrade.

In - http://www.fundacaoeugenioandrade.pt/historia_fr1.htm

março 28, 2006

Caricatura para ver em Vila Nova de Famalicão



















Inaugura na próxima sexta-feira no Centro de Estudos Camilianos, em Vila Nova de Famalicão, a exposição de André Carrilho intitulada "Linha, ponto e vírgula" a qual reúne 80 caricaturas de escritores feitas pelo autor para várias publicações nacionais e internacionais. A mostra estará patente todos os dias até 14 de Maio.

Cadernos de Pessoa disponíveis em 2007

Depois da obra de Alberto Caeiro, o Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea (ACPC) prepara-se para colocar on-line, em 2007, os cadernos de Fernando Pessoa, que incluem material diverso, desde poesia e prosa em português e inglês até referências bibliográficas e apontamentos sobre os mais variados temas, passando por horóscopos. Só depois começará a ser disponibilizado o corpus poético de Ricardo Reis, outro dos heterónimos de Pessoa. Também em 2007 será digitalizada a colecção Antero de Quental, que inclui manuscritos de sonetos e alguma correspondência, e em seguida a colecção Almeida Garrett, composta fundamentalmente por correspondência trocada com o irmão. Neste momento existe já no site da Biblioteca Nacional, além de Caeiro, o espólio de Florbela Espanca, elaborado por Fátima Lopes, responsável pelo ACPC. Trata-se, como explica o texto inicial, de «um acervo de pequena dimensão, constituído por 39 documentos, que Florbela terá "abandonado" em 1923», e que inclui manuscritos de poesia e prosa, correspondência e recortes de imprensa com artigos de Florbela Espanca ou sobre ela.

In - Jornal "Público"

Museu da Língua Portuguesa... em São Paulo (BR)

“A Estação da Luz, em São Paulo, abriga o Museu da Língua Portuguesa – inaugurado oficialmente ontem [20.Mar.2006] –, o único espaço do mundo totalmente dedicado ao idioma natural de um país. Além da interatividade e da alta tecnologia, o museu abriga um vasto conteúdo sobre linguagem, história da língua, os inúmeros idiomas que ajudaram a formá-la, as formas que ela assume no cotidiano, a criação da língua na literatura brasileira, entre outros assuntos, que são apresentados em diversas mídias e espaços do local. O projeto foi orçado em R$ 37 milhões e a realização é da Fundação Roberto Marinho e da Secretaria da Cultura do
Estado de São Paulo, com o incentivo da Lei Rouanet.

Segundo Marcello Dantas, formado em cinema e televisão pela Universidade de Nova York, diretor artístico do espaço, o projeto apresenta novo conceito. ‘Não é memorial ou biblioteca. Para se falar de língua precisamos criar um conceito diferente, que não é nem objetual, nem estanque, mas sim mutante e dinâmico. As pessoas que forem ao museu hoje irão encontrá-lo diferente amanhã. Ele fala a linguagem do século 21 e incorpora a vontade de expectador’, conta o diretor.

Em vez de passear por uma sucessão de objetos e textos presos às paredes, o público é convidado para uma viagem sensorial pelo idioma, que inclui filmes, audição de leituras e até jogos. ‘O tempo todo estamos lidando com a mistura do erudito com o popular. A língua é de todos, pode ser oral, escrita, cantada, musicada, dançada’, fala Dantas, que também é responsável pela produção da projeção da Praça da Língua e de alguns dos filmes da Grande Galeria, dois locais multimídias do museu, onde são realizadas atividades.

Na Praça da Língua, uma espécie de planetário, o público encontrará uma antologia da literatura brasileira escolhida por José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski. Textos de autores, como Gonçalves Dias, Machado de Assis e Oswald de Andrade, serão misturados a letras do cancioneiro popular. Imagens e palavras são projetadas no teto, reforçando a idéia de um planetário. Os textos são refletidos no chão, num imenso círculo feito de vidro escuro, que também contribui com a sensação de que o visitante chegou a uma praça. A antologia é ouvida na voz de narradores, como Chico Buarque, Zélia Duncan e Matheus Natchtergaele.

Além da praça, o público encontrará a Árvore da Língua, criada pelo arquiteto e designer Rafic Farah, e complementada por uma mantra de Arnaldo Antunes, que em suas folhas são projetados os contornos de vários objetos e suas raízes são formadas por diversas palavras. O Auditório vai tratar da origem da linguagem e das línguas, da multiplicidade das línguas do mundo e do fenômeno específico do português do Brasil.

Já na Grande Galeria serão exibidos 11 filmes que tratam de temas diversos sobre a linguagem. Nas Palavras Cruzadas, oito totens são dedicados às influências das línguas e dos povos que contribuíram para formar o português do Brasil. O Museu também têm espaço para a Linha do Tempo da História da Língua Portuguesa. O Beco das Palavras abriga um jogo eletrônico interativo, que permite brincar com a criação de palavras e, ao mesmo tempo, aprender sobre a etimologia dos termos. ‘Lá as palavras viram conceitos’, fala Dantas. ”

In: Jornal de Piracicaba, 21/03/006

março 27, 2006

A Distância Invisível

Já se tornou uma rotina. Antigamente eram fotógrafos, publicitários, especialistas de "marketing". Hoje estão em todo o lado. São os brasileiros. A gente entra num café, e o empregado é brasileiro. Vai à caixa pagar o estacionamento e ouve falar o português do Brasil. Compra uns sapatos e é acolhido por uma brasileira. Adquire uma revista de poesia (dou o melhor dos exemplos: "Inimigo Rumor") e encontra colaboradores portugueses e brasileiros. Compra um disco e é a voz esmagadora de Virgínia Rodrigues a cantar afro sambas. Quer aprender a ler a poesia portuguesa moderna e contemporânea, e tem um amplo volume desse leitor excepcional que é Jorge Fernandes da Silveira, intitulado "Verso com verso" (na Angelus Novus). Os brasileiros estão em todo o lado e estão naturalmente, numa verdadeira fraternidade. É verdade que mantêm laços de solidariedade entre si, e estranho seria se o não fizessem. Mas integram se plenamente na vida portuguesa, e contribuem para essa dimensão intercultural que é necessário desenvolver.

Há dias, os jornais noticiaram que se estão a criar escolas interculturais em Coimbra, Luanda e Recife, através de uma organização não governamental, a CEA, isto é, a Cooperativa de Ensino e Arte. E a CPLP (que começa a dar alguns discretos sinais de vida) dá o seu apoio. É em coisas dessas que ela justifica a sua existência. O Instituto António Sérgio também vai participar através de equipamentos e pagamento dos primeiros professores. No projecto já esboçado, poder se á ir do ensino pré escolar ao ensino superior. Para o Brasil, prevêem se escolas em Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo. O projecto é apaixonante.

Aproveitando esta vaga, uma excelente jornalista brasileira, que em Portugal foi responsável pelo projecto da "Ícone" (onde estava também Ana Sousa Dias), de nome Paula Ribeiro, lançou se agora numa admirável aventura: tentar fazer um jornal semanal para os brasileiros que estão em Portugal e para os portugueses que se interessam pelo Brasil. Já vai em mais de dez números, calculo eu, e é uma leitura muito interessante e simpática. Leve em todos os sentidos (com uma notável qualidade gráfica), mas com aquele agudo sentido de qualidade que Paula Ribeiro gosta de impor nos seus projectos.

Folheemos o n.º 9, correspondente à semana que se iniciava em 15 de Abril. A telenovela está presente na primeira página, para nos contar que, na "Celebridade", ainda havemos de ver a protagonista, a actriz Malu Mader, "grávida, presa e pobre". Mas é nos prometido um aliciante suplementar: a morte de Lineu Vasconcelos (que parece com vocação para ser assassinado) e o habitual rol de suspeitos em que o mistério apenas se desvendará no último episódio. Mas o "Correio do Brasil" tem coisas bem mais interessante: uma crónica de Alberto Dines, crónicas de jornalistas portugueses (recordemos o belo texto de Maria João Guardão), indicações sobre lugares onde comer gastronomia brasileira, um "dossier" sobre o novo disco de Caetano, a evocação do inesquecível "Morte e Vida Severina", um artigo sobre Melo Neto, e duas páginas que nos deixam em estado de graça sobre a pequena cidade de Paraty. Há ainda o desporto, os livros, e as informações relativas ao GNT. No final da leitura, estamos um pouco mais brasileiros, e espero que os brasileiros se tenham tornado um pouco mais portugueses. A distância vai se tornando invisível.

Por EDUARDO PRADO COELHO - in "Público" em 30 de Abril de 2004

março 25, 2006

Outras pronúncias...

A insistência de um certo humor televisivo lisboeta na exploração das particularidades fonéticas do modo de falar do Porto é eficaz como caricatura, mas tem o inconveniente de apresentar uma visão redutora de um fenómeno extensível a todo o País, e não exclusivo de uma dada região. O facto de ser o Porto a fonte inspiradora da graça a partir dos sons das palavras poderia ter várias explicações de raízes sociológicas, logo a começar pela natural rivalidade entre os dois principais centros urbanos, com passagem pela eterna questão da norma imposta pelo poder.

Fosse o Porto a sede do poder político e dos grandes órgãos de comunicação social difusores daquilo que se supõe ser o modo correcto de falar e, por certo, lá estariam os lisboetas a ser massacrados pelo modo como, por exemplo, acentuam o "u" em final de palavra.

Gil Vicente, no auto pastoril A Visitação, para fazer graça junto do rei imitava o falar das beiras, região onde, na altura, se situava algum do contra poder à corte situada na capital. Os linguistas e foneticistas costumam relativizar a importância destas questões, e Armando Lacerda, considerado um dos maiores foneticistas da língua portuguesa, duriense assumido, gabava se em Coimbra, onde dava aulas, de pertencer a uma cidade que tinha honra em guardar o seu sotaque. Ele próprio não fazia qualquer esforço para amenizar os ditongos.

Mais recentemente, Mário Vilela, catedrático da Faculdade de Letras do Porto e um dos grandes especialistas nesta área, fez uma experiência junto do corpo docente da escola, para avaliar até que ponto se verificava ou não, num sector mais culto, um assinalável afastamento dos traços distintivos do característico falar do Porto. O resultado foi elucidativo: a generalidade dos
professores naturais do Porto assume com naturalidade que na sua linguagem estão presentes os traços identificadores da fonética portuense. Mário Vilela afirma que esta situação é reveladora da "auto estima que as pessoas sentem pelos seus modos de ser, viver e falar".

O que distingue o falar do Porto, mais que a maior ou menor criatividade de algumas expressões populares aliás presente em todo o País é a fonética. Os órgãos que articulam a fala dos portuenses são rigorosamente iguais aos de qualquer português. Contudo, talvez por influência de réstias de uma língua anterior ao galaico português, no Porto os "b", por exemplo,
são mais fortes e sobrepõem se aos "v". Daí resulta o "binhu" (vinho), "barãnda" (varanda), "biána" (Viana) ou "bibu" (vivo).

Os ditongos "ão" ou "õe" são muito acentuados e prolongam se mais que em outras regiões.
Para dizer limão, irmão, Bolhão ou cartão, um habitante do Grande Porto pode transformar um dissílabo num trissílabo ao acrescentar um "e" fechado e anasalado no final da palavra. A transcrição fonética permitiria entender este fenómeno em toda a sua extensão, mas não é perceptível pelo comum dos leitores, pelo que nos dispensamos de avançar aqui com um exercício quase académico.

É possível detectar fenómenos semelhantes em palavras como fonte ou morto. Um portuense de Miragaia ou da Sé áreas onde se mantém com mais força este traço de identidade acrescentará uma espécie de "u" antes dos "o" fechados de fonte e morto. No limite, uma palavra como ponte quase parecerá "põente", na boca de um residente na Bainharia.

E aqui temos uma outra faceta. Em palavras onde se encontram as palatais "lh", como telha ou palha, teremos "teilha" ou "pailha", como "beiju" para referir "vejo". Estes exemplos ilustram um modo de falar que tem vindo a perder se, devido à influência normalizadora da televisão e da rádio. Ninguém espere, por isso, chegar ao Porto e tropeçar em portuenses que trocam os "b" pelos "v" e apresentam um sotaque muito cerrado e acentuado. Uma outra particularidade do falar do Porto, e nem sempre entendido para quem chega, é o modo descomplexado e até com sentido majorativo como são utilizadas palavras e expressões que noutros locais são tidos como grandes palavrões. Não é invulgar ouvir um amigo dizer a outro, dando lhe uma palmada nas costas: "Anda cá, meu filho da puta..." Tal como não é uma coisa do outro mundo presenciar uma mãe a regalar se com uma tropelia do filho, chamando lhe carinhosamente "cabrão do caraças".

Este jeito singular de criar expressões estranhas, com frequência brejeiras, muito explorado nos bairros populares, não tem qualquer carga negativa e constitui, muitas vezes, um factor de socialização. Nas duas caixas inventariamos algumas frases e expressões idiomáticas utilizadas no Porto ou na sua área de influência. Como se vê, há uma preponderância de frases e termos que jamais teriam lugar no baile de debutantes do Clube Portuense. Algumas são inequivocamente do Porto, outras terão sido assimiladas, mas em nenhum lado são ditas como aqui. E é esse modo muito particular de dizer que faz com que se tornem propriedade da comunidade de falantes
portuenses.

Vocabulário

Aloquete - Cadeado
Azeiteiro - Aquele que vive à custa de prostitutas
Benha - Diz se repetidas vezes, e é o grito de guerra dos arrumadores de carros para assinalar um lugar vago entre muitos outros disponíveis. É um «beinha» que prosaicamente significa «venha»
Botar - Pôr, deitar
Breca - Cãibra
Burgesso - Aquele que, além de burro, é teimoso
Canalha - Miúdos, catraios
Calcantes - Sapatos
Cimbalino - Café
Carago - Na verdade é caraças o que mais se utiliza para referir de forma metafórica o órgão sexual masculino
Cruzeta - Cabide
Chuço - Guarda chuva
Estrugido - Refogado
Fino - Cerveja servida a copo
Infusa - Jarro
Moina - Polícia
Molete - Pão, carcaça
Mor - Termo utilizado pelas vendedeiras. Abreviatura de «amor»; forma carinhosa de chamar o cliente
Morcão - Palerma
Perseguida - Órgão sexual da mulher
Sameira - Cápsula de refrigerante
Vagem - Feijão verde

Expressões idiomáticas

Chá de Bico - Clister
Deu lhe a filoxera - Desmaiou Dar corda aos vitorinos Andar rápido, fugir
Dói me o garfeiro todo - Doem me os dentes
Estar com os vitorinos encharcados - Estar bêbado
Estar de beiços - Estar amuado
Falar ao microfone - O que é suposto Monica Lewinsky ter feito a Clinton e que o Presidente dos EUA alega não ter sido uma relação sexuaL
Foi fazer tijolos - Morreu
Foi medir caixotes - Morreu
Mandar uma traulitada directa à caixa dos fusíveis - Dar um murro nas ventas, quer dizer, no focinho, ou seja, na cabeça
Narizinho de cheiro ou de caticha - Diz se de alguém que se ofende facilmente
Secou se lhe o céu da boca - Morreu
Vai no Batalha - Como quem diz: isso é filme; forma mais prosaica de dizer que é mentira
Vai à postura - Vai até à praça de taxi
Via de serventia - Expressão das mulheres do povo na sua relação com os ginecologistas

Por: Valdemar Cruz - in "Expresso" em 01.NOV:98

Já me estão a cansar...

"Já me estão a cansar... parem lá com a mania de que digo muitos palavrões, caralho! Gosto de palavrões! Como gosto de palavras em geral. Acho os indispensáveis a quem tenha necessidade de dialogar... mas dialogar com carácter! O que se não deve é aplicar um bom palavrão fora do contexto, quando bem aplicado é como uma narrativa aberta, eu pessoalmente encaro os na perspectiva literária! Quando se usam palavrões sem ser com o sentido concreto que têm, é como se estivéssemos a desinfectá los, a torná los decentes, a recuperá los para o convívio familiar.

Quando um palavrão é usado literalmente, é repugnante. Dizer "Tenho uma verruga no caralho" é inadmissível. No entanto, dizer que a nova decoração adoptada para a CBR 900'2000 não lembra o "caralho", não mete nojo a ninguém. Cada vez que um palavrão é utilizado fora do seu contexto concreto e significado, é como se fosse reabilitado. Dar nova vida aos palavrões, libertando os dos constrangimentos estritamente sexuais ou orgânicos que os sufocam, é simplesmente um exercício de libertação. Quando uma esferográfica não escreve num exame de Estruturas "ah a grande puta" ("... não escreve!"), desagrava se a mulher que se prostitui.

Em Portugal é muito raro usarem se os palavrões literalmente. É saudável. Entre amigos, a exortação "Não sejas conas", significa que o parceiro pode não jogar um caralho de GT2. Nada tem a ver com o calão utilizado para "vulva", palavra horrenda, que se evita a todo o custo nas conversas diárias. Pessoalmente, gosto da expressão "É fodido..." dito com satisfação até parece que liberta a alma! Do mesmo modo, quando dizemos "Foda se!", é raro que a entidade que nos provocou a imprecação seja passível de ser sexualmente assaltada.
Por ex.: quando o Mário Transalpino "descia" os 8 andares para ir à garagem buscar a moto e verificava que se tinha esquecido de trazer as chaves... "Foda se"!! não existe nada no vocabulário que dê tanta paz ao espírito como um tranquilo "Foda se...!!". O léxico tem destas coisas, é erudito mas não liberta. Os palavrões supostamente menos pesados como "chiça" e "porra", escandalizam me. São violentos.

Enquanto um pai, ao não conseguir montar um avião da Lego para o filho, pode suspirar após três quartos de hora, "ai o caralho...", sem que daí venha grande mal à família, um "chiça", sibilino e cheio, pode instalar o terror. Quando o mesmo pai, recém chegado do Kit Market ou do Aki, perde uma peça para a armação do estendal de roupa e se põe, de rabo para o ar, a perguntar "onde é que se meteu a puta da porca...?", está a dignificar tanto as putas como as porcas, como as que acumulam as duas qualidades.

Se há palavras realmente repugnantes, são as decentes como "vagina", "prepúcio", "glande", "vulva" e "escroto". São palavrões precisamente porque são demasiadamente inequívocos... para dizer que uma localidade fica fora de mão, não se pode dizer que "fica na vagina da mãe" ou "no ânus de Judas". Todas as palavras eruditas soam mais porcas que as populares e dão
menos jeito! Quem é que se atreve a propor expressões latinas como "fellatio" e "cunnilingus"? Tira a vontade a qualquer um! Da mesma maneira, "masturbação" é pesado e maçudo, prestando se pouco ao diálogo, enquanto o equivalente popular "esgaçar um pessegueiro", com a ressonância inocente que tem, de uma treta que se faz com o punho, é agradavelmente infantil.

Os palavrões são palavras multifacetadas, muito mais prestáveis e jeitosas do que parecem. É preciso é imaginação na entoação que se lhes dá.Eu faço o que posso."

MIGUEL ESTEVES CARDOSO

fonte: http://www.truca.pt/coisas_serias_material/coisas_serias_antigas/coisas_serias12.html

O Quarto Anjo


Após criar o primeiro anjo, Deus ofereceu-lhe um poderoso par de asas. Explicou-lhe que aquilo era mais um aparato de fé do que de voo.

"Os pássaros", assegurou-lhe: "voam sobretudo por convicção."

O anjo viu como voavam os pássaros, batendo as asas e recolhendo as pernas, e imitou-os. Ao fim de cinco meses tinha ganho uma certa prática, e até já conseguia fazer algumas piruetas, incluindo voo picado seguido de um, é certo que não muito feliz, duplo mortal invertido. Não era ainda uma águia, mas também não poderia ser confundido com uma galinha. Enfim, voava.

"Agora tira-as", disse-lhe então Deus, que o observara em silêncio, a uma distância discreta, durante todos aqueles dias:

"Tira essas asas e voa."

O anjo olhou para Ele incrédulo. Protestou:

"E eu lá sou doido, ó Deus?! Tiro coisa nenhuma!..."

Deus, o qual, como se sabe, é brasileiro, não estranhou nem que o anjo falasse português, nem sequer o forte sotaque carioca; a língua e o sotaque, claro, aprendera-as com Ele. Compreendeu, todavia, que lhe faltava o essencial, a fé, além de uma educação um pouco mais esmerada, pois, bem vistas as coisas, tratava-se de um anjo, ainda que numa fase de iniciação - e num rápido gesto de enfado, descriou-o.

O segundo anjo era, sem dúvida, um sujeito mais cordato e delicado. Muito loiro e frágil. Muito anjo. Tinha uma cabeleira comprida, que gostava de trazer sempre limpa e entrançada, num gracioso rabo-de-cavalo. Aprendeu a voar mais depressa do que o primeiro, com uma técnica original, que deixava os pássaros envergonhados. Porém, quando Deus lhe pediu que tirasse as asas e se lançasse assim, inteiramente nu, de um penhasco altíssimo, também ele recusou.

"Saiba o Senhor que isso eu não faço. Com o seu perdão, meu Deus, faço qualquer coisa menos isso."

Disse aquilo com voz trémula e humilde, sem sombra de arrogância, de forma que o Criador se apiedou dele e o deixou ir. O anjo pintou as asas de cor-de-rosa e juntou-se a um bando de flamingos. Dizem alguns gnósticos que ainda hoje é possível ver, em certos crepúsculos inflamados, nalgum palude perdido de África, um anjo voando, com singular elegância, entre uma nuvem de flamingos. Eu nunca o vi, mas pode ser.

O terceiro anjo fê-lo Deus mais prático e destemido. Usava um bigode curvo e era respeitoso e de poucas palavras. Voava sem esforço, mas também sem agrado. Pousava nos ramos das mangueiras, ou de outras árvores igualmente altas e frondosas, e era capaz de ficar por ali, sentado, tardes inteiras, a cofiar o forte bigode, a comer mangas e a fruir a sombra fresca e o canto das aves. Quando Deus lhe pediu que subisse ao penhasco e que tirasse as asas e saltasse, não o contestou. Não disse nada. Voou até ao penhasco, tirou as asas e saltou. Ficou claro, naquele trágico instante, que o que lhe sobrava em disciplina faltava-lhe em fé. Ou melhor, como Deus lhe tentou explicar enquanto ele caía, vertiginosamente, de encontro ao gume feroz das rochas, lá muito embaixo, o problema é que colocara toda a sua fé no instrumento ao invés de a colocar no objectivo. O impacto foi devastador.

O Senhor Deus ficou desgostoso com o novo desaire. Levou muito tempo a recuperar-se. Por fim tentou de novo. Saiu-lhe, à quarta tentativa, um anjo alegre, até um pouco simplório, que gostava mais de cantar e de dançar, artes, aliás, que ele próprio havia inventado, do que de voar. Para voar não parecia possuir grande talento. Todavia, quando Deus lhe sugeriu que tirasse as asas e tentasse voar sem elas, usando para isso apenas o esforço da fé, ele apenas perguntou, atordoado:

"E é possível?"

Depois largou as asas, espreitou o fundo abismo, fechou os olhos, e imaginou que por dentro do seu corpo outras asas se desenrolavam e batiam. Foi com essas, um tanto torto, um outro tanto tonto, que se ergueu no céu.

Deus alegrou-se. Depois dele fez muitos outros anjos, legiões e legiões, mas poucos, muito poucos, foram capazes de imitar o número quatro. Diz-se que esse anjo sem asas se passeia entre os homens, como uma espécie de polícia à paisana. Um observador num campo de batalha. Uma testemunha incógnita. Provavelmente o anjo número dois é mais feliz.

Por: José Eduardo Agualusa in "Pública" em 29 de Maio de 2005

março 24, 2006

No princípio eram... palavras, palavras, palavras

Era muito dado a estados contemplativos. Que o deixavam em disposição horizontal, nariz apontado para o céu, durante tiras a fio. E pairavam reflexões no ar, envoltas em balões flutuantes, precedidos de uma série de bolhinhas em fila indiana. Outras vezes transbordava de paixão, apetecia-lhe caninamente beijar Lucy. Isto, quando não enfiava os óculos de aviador da primeira guerra mundial e fazia da casota avião. Ou quando não entabulava um dos diálogos mais monologantes da história da BD, com um pássaro amarelo chamado Woodstock, que só lhe respondia por apóstrofes e asteriscos. Ou quando não lhe puxava a veia literária. Nessas alturas, sentava-se no telhado e apoderava-se da máquina de escrever. Começava invariavelmente assim: «It was a dark and stormy night...»

O início de romance favorito de Snoopy. Mais famoso por aparecer nos quadradinhos de Charles Schulz do que por ter sido escrito por um romancista inglês do século XIX, chamado George Earl Bulwer-Lytton. Aliás, o próprio autor ficou mais famoso pelo primeiro parágrafo do que pelo resto do livro todo. São consideradas as piores linhas de sempre de abertura de um romance: «Era uma noite escura e tempestuosa; a chuva caía em torrentes, excepto em intervalos ocasionais quando era revolvida por um golpe de vento que varria as ruas, porque era em Londres que esta história se passava (...)». Anualmente decorre um concurso, como o nome deste escritor, numa variante de prémios igNóbeis, para seleccionar os mais ridículos e absurdos princípios de uma obra de ficção.

É o momento crucial. O ponto (final) de partida. Se o título e a capa são a porta do livro, a primeira frase é o que faz com que, através da frincha entreaberta, o leitor se detenha na ombreira e espreite lá para dentro. E entre. Ou saia rapidamente, com maior ou menor estrépito, e vá bater a outra freguesia. Que é como quem diz a outro livro. Se, com esse início, conseguirmos fazê-lo entrar até ao hall já é uma vitória. Mas a batalha só está ganha se ele se embrenhar na casa, experimentar a sala, visitar a cozinha, passar pelos WCs, inspeccionar a despensa, deitar-se no quarto, esquadrinhar os cantos, os vãos e as zonas sombra, subir as escadas, agarrar-se ao corrimão, percorrer os corredores, os sótãos, as caves, ir até às varandas, voltar para dentro... E só sair da habitação depois de conhecer todas as suas dependências, metro quadrado por metro quadrado, tijolo por tijolo. E que saia pela porta dos fundos, de preferência.

Salvaguardadas as devidas e quilométricas distâncias, no jornalismo também é assim. A pesca faz-se à (primeira) linha. Ou o leitor morde o anzol, (chamamos-lhe lead ou superlead), ou vai procurar isco para a página seguinte. Há jornalistas completamente obcecados pela forma como abrem os seus artigos. Não conseguem começar a escrever, antes de encontrar a melhor composição para pendurar no anzol. É uma sensação estranha, quase paralisante.. Ou uma boa desculpa. Outros preferem deixar a abertura para o fim, depois de acabarem de escrever toda a reportagem, como aconselham sabiamente os manuais de jornalismo. Gabriel García Marquéz, que antes de ser imortal nobelizado já foi comum jornalista, falava, numa entrevista, na técnica de «hipnotizar» o leitor de jornais às primeiras linhas. Depois, havia que ir sucedendo as frases, uma após outra, com muita suavidade, assegurando que o ritmo respiratório do leitor permanecesse estável, ligá-lo ao ventilador nos primeiros parágrafos se preciso fosse, deixá-lo atingir a fase REM, sem ruídos, sem redundâncias, sem sobressaltos ortográficos, nem estereótipos estafados, para que ele não despertasse, até à última linha da última página.

Isto vindo do escritor que esteve tentado a substituir o apelido do seu coronel Aureliano Buendía porque lhe rimava com os pretéritos imperfeitos e que perseguia implacavelmente todos os advérbios que se atravessassem insidiosamente nas frases e lhe banalizavam a prosa. Eliminava-os. Impiedosamente. Um dia, iniciou desta forma inesquecível a sua obra-prima: «Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que o seu pai o levou para conhecer o gelo» (Cem Anos de Solidão).

Mas nem todas as aberturas (Incipit) são astúcias de Xerezade para captar a atenção de leitores. Os contos de fadas não seriam de fadas se não começassem por «era uma vez». Os antigos iniciavam os seus poemas com uma invocação às musas. Na época moderna os autores deixavam bem claro, no primeiro parágrafo, as pessoas e os factos de que iam tratar, localizados no tempo e no espaço. «Nasci na cidade de York no ano de 1632, originário de boas famílias...» (Robison Crusoe, Daniel Defoe). Outros preferiram retocar os factos com uma névoa de indefinição lendária: «Em certo lugar da Mancha, de cujo o nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo, dos de lança em cabido, adarga antiga, rocim fraco e galgo corredor» (D. Quixote, Cervantes). Outros foram directos ao assunto: «Chamem-me Ismael» (Moby Dick, Herman Melville). Ou interrogaram directamente o desprevenido leitor: «Conheceis a Beira-alta?» (Mário, Silva Gaio). Outros assumiram o relato biográfico com um prolixo e irónico excesso de zelo, a partir da fase pré-embrionária (Tristram Shandy, Laurence Sterne). Ou retardaram a inauguração da história, como Aquilino, a descrever o percurso subterrâneo de uma bolota taluda «muito quieta e resfastelada» antes de ser carvalho (A Casa Grande de Ramarigães). Outros optaram por primeiras linhas minimalistas: «Tom! Ninguém respondeu. Tom! Nada.» (Tom Swayer, Mark Twain) Outros pelos inícios-choque: o caixeiro viajante a despertar de um sonho intranquilo transformado em insecto monstruoso (Metamorfose, Kafka) ou simplesmente com uma frase definitiva: «No dia seguinte ninguém morreu» (As Intermitências da Morte, José Saramago).

Italo Calvino escreveu um romance labiríntico feito de inícios de romances. Começa assim: «O romance começa numa estação de caminho-de-ferro, uma locomotiva resfolga, um ofegar de êmbolo cobre a abertura do capítulo, uma nuvem de fumo esconde parte do primeiro parágrafo».(Se Numa Noite de Inverno Um Viajante).

Há princípios que são tão reconhecíveis como a história que vão iniciar, apesar de não fazerem parte dela. Como o enfado da menina, sem nada para fazer, antes de passar o coelho apressado e de ter um buraco por onde cair (Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll). Ou o chapéu desenhado que afinal era jibóia deglutidora de elefantes invisível aos olhos formatados de adulto (O Princepezinho, Antoine de Saint- Exupéry). Gonçalo M. Tavares também fala de elefantes em Nove Insultos a Nove Animais (numa colectânea de quatro autores chamada Quatro Histórias com Barão): «O elefante é um animal de azares: nasceu gordo no meio e fininho nas pontas. (...) E ser frágil nas extremidades, no início e no fim, é um erro fatal, para romances e elefantes. No romance a primeira frase é fundamental, e a última é aquela que pode deixar o leitor a meditar. No elefante falhou tudo excepto o centro, que é gordo e enorme.»

E já vai cheio, gordo, pesadão este (mais de) meio de crónica. Elefante de barriga pendente, distendida, a rojar pelo chão. Para os jornalistas esta é a fase de distensão, depois do stress da abertura. Aquela em que os parágrafos fluem, desembrulham-se, desenrolam-se rapidamente como o fio de papagaio com vento de feição. Não há grandes regras. Quer dizer, a única é mesmo não dar muito fio, se não se quer perder de vista o papagaio. Havia um professor que dizia que preferia não ser muito interventivo, deixava os alunos errar, emendar sozinhos as suas asneiras, desde que não perdessem por completo o pé, até podiam engolir alguns pirolitos, não fazia mal. E ele ficava ali, vigilante, de pé nas margens, enquanto os alunos nadavam, às vezes desajeitados, a ensaiar estilos, a chapinhar um bocado. Mas quando algum deles se afastava demasiado de terra, o professor fazia sinal para que voltasse a aproximar-se. O truque é, quando se escreve, instalar um professor destes dentro de nós, como quem instala um programa corrector no computador. Se estamos a divagar e nos afastamos demasiado, sentimos o professor, lá dentro, a acenar, a acenar... Às vezes não obedecemos.

Há quem diga que é nos primeiros três minutos que decidimos se nos apaixonamos por alguém. Os primeiros olhares, os primeiros gestos, as primeiras palavras. Os primeiros passos são sempre determinantes. Para um bebé ou para a humanidade, se forem dados na Lua. Um filme tem dez minutos para mostrar o que vale, se até aí não tiver cativado a atenção do espectador, nada a fazer. Claro que é sempre possível subverter os cânones. Há sempre Manóeis de Oliveira que abominam o convencional, constroem barreiras narrativas logo à partida, ao espectador resta-lhe escalar, se quiser, a custo. E dois minutos de travelling em torno de uma árvore é quase um muro de Berlim.

O que dizer então das primeiras linhas? O que há de mesmo muito interessante nos inícios é aquilo de que falava Italo Calvino, a imensa liberdade, o mundo de opções à nossa disposição, a possibilidade de dizer tudo, de todos os modos possíveis. Uma potencialidade ilimitada e multiforme. Mas assim que se ergue a ponte levadiça da escrita e passamos para o outro lado, pronto, entramos noutro mundo, no mundo verbal, denunciamos as nossas preferências, o nosso estilo, as nossas não opções. É indelicadeza dos princípios, serem pouco discretos. Delatores até. Sorte a dos pintores. Nos quadros os inícios estão ocultos, as primeiras pinceladas, os primeiros esboços nunca são apregoados em público. É um segredo que fica entre o autor e uns abelhudos aparelhos raios-x.

Qualquer início é sempre o princípio do fim. Mas nos romances a imortalidade não começa depois do fim, mas depois do princípio. Enfim, por esta altura, está um vulto, ao longe, no cimo da falésia, a acenar, acenar para o mar alto... O professor.

Sorte a dos elevadores que só sobem e descem e não embarcam em conversas laterais. Sorte?

DE ANA MARGARIDA DE CARVALHO - "NO PRINCÍPIO ERAM... PALAVRAS, PALAVRAS, PALAVRAS"
(In Revista Visão - 23 de Março de 2006)

Morreu Fernado Gil


O filósofo português Fernando Gil morreu no passado domingo dia 19 de Março em Paris, vítima de doença prolongada. Tinha 69 anos de idade.

Fernando Gil, nasceu a 3 de Fevereiro de 1937, em Moçambique, onde fez o liceu. Estudou sociologia, durante um ano, na Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, partindo de seguida para Lisboa, onde se licenciou em Direito. Em 1961, parte para Paris, onde se licencia em Filosofia pela Universid ade da Sorbonne.

Mais tarde, doutorou-se em Lógica, na Universidade de Paris, de que resulta a publicação da tese «La Logique du Nom». Em 1976, começou a leccionar na Faculdade de Letras de Lisboa, integrando posteriormente o Departamento de Filosofia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde era professor catedrático desde 1998.

Ensinou em várias universidades europeias e sul-americanas, como as Universidades de Porto Alegre e de São Paulo, e na Universidade Johns Hoppkins, em Baltimore. A publicação, em 1984, de Mimesis e Negação, valeu-lhe o Prémio Ensaio do Pen Club, que voltará a receber com Viagens do Olhar, em 1998. Edita ainda Provas, em 1998, Tratado da Evidência, em 1993, e Modos da Evidência, em 1998.

Traduziu para português, autores como Karl Jaspers, Romano Guardini, Cesare Pavese e Merleau-Ponty. Em Lisboa, fundou e dirigiu a revista Análise.

Foi consultor do ministro da Ciência e Tecnologia, José Mariano Gago, e do Presidente da República, Mário Soares, durante os seus dois mandatos.

Recebeu, em 1993, o Prémio Pessoa e foi galardoado com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 1992. A Universidade de Aveiro nomeou-o ’doutor honoris causa’ e o governo francês agraciou-o com o título de Cavaleiro da Ordem das Palmas Académicas.

The Nobel Prize in Literature - Laureates


2005 Harold Pinter , United Kingdom
“who in his plays uncovers the precipice under everyday prattle and forces entry into oppression’s closed rooms”.

2004 Elfriede Jelinek , Austria
”for her musical flow of voices and counter-voices in novels and plays that with extraordinary linguistic zeal reveal the absurdity of society's clichés and their subjugating power”

2003 J. M. Coetzee , South Africa
”who in innumerable guises portrays the surprising involvement of the outsider”

2002 Imre Kertész , Hungary
”for writing that upholds the fragile experience of the individual against the barbaric arbitrariness of history”

2001 V.S. Naipaul, United Kingdom
“for having united perceptive narrative and incorruptible scrutiny in works that compel us to see the presence of suppressed histories”

2000 Gao Xingjian, France (born in China)
“for an œuvre of universal validity, bitter insights and linguistic ingenuity, which has opened new paths for the Chinese novel and drama”.

1999 Günter Grass, Federal Republic of Germany
“Whose frolicsome black fables portray the forgotten face of history”

1998 José Saramago, Portugal
“who with parables sustained by imagination, compassion and irony continually enables us once again to apprehend an elusory reality”

1997 Dario Fo, Italy
“who emulates the jesters of the Middle Ages in scourging authority and upholding the dignity of the downtrodden”

1996 Wislawa Szymborska, Poland
“for poetry that with ironic precision allows the historical and biological context to come to light in fragments of human reality”

1995 Seamus Heaney, Ireland
“for works of lyrical beauty and ethical depth, which exalt everyday miracles and the living past”

1994 Kenzaburo Oe, Japan
“who with poetic force creates an imagined world, where life and myth condense to form a disconcerting picture of the human predicament today”


1993 Toni Morrison, USA
”who in novels characterized by visionary force and poetic import, gives life to an essential aspect of American reality”


1992 Derek Walcott, St. Lucia
”for a poetic oeuvre of great luminosity, sustained by a historical vision, the outcome of a multicultural commitment”


1991 Nadine Gordimer, South Africa
”who through her magnificent epic writing has - in the words of Alfred Nobel - been of very great benefit to humanity”


1990 Octavio Paz, Mexiko
”for impassioned writing with wide horizons, characterized by sensuous intelligence and humanistic integrity”


1989 Camilo José Cela, Spain
”for a rich and intensive prose, which with restrained compassion forms a challenging vision of man's vulnerability”


1988 Naguib Mahfouz, Egypt
”who, through works rich in nuance - now clear-sightedly realistic, now evocatively ambiguous - has formed an Arabian narrative art that applies to all mankind”


1987 Joseph Brodsky, USA
”for an all-embracing authorship, imbued with clarity of thought and poetic intensity”


1986 Wole Soyinka, Nigeria
”who in a wide cultural perspective and with poetic overtones fashions the drama of existence”


1985 Claude Simon, France
”who in his novel combines the poet's and the painter's creativeness with a deepened awareness of time in the depiction of the human condition”


1984 Jaroslav Seifert, Czechoslovakia
”for his poetry which endowed with freshness, sensuality and rich inventiveness provides a liberating image of the indomitable spirit and versatility of man”


1983 William Golding, United Kingdom
”for his novels which, with the perspicuity of realistic narrative art and the diversity and universality of myth, illuminate the human condition in the world of today”


1982 Gabriel García Márquez, Colombia
”for his novels and short stories, in which the fantastic and the realistic are combined in a richly composed world of imagination, reflecting a continent's life and conflicts”


1981 Elias Canetti, United Kingdom
”for writings marked by a broad outlook, a wealth of ideas and artistic power”


1980 Czeslaw Milosz, Poland and USA
”who with uncompromising clear-sightedness voices man's exposed condition in a world of severe conflicts”


1979 Odysseus Elytis, Greece
”for his poetry, which, against the background of Greek tradition, depicts with sensuous strength and intellectual clear-sightedness modern man's struggle for freedom and creativeness”


1978 Isaac Bashevis Singer, USA
”for his impassioned narrative art which, with roots in a Polish-Jewish cultural tradition, brings universal human conditions to life”


1977 Vicente Aleixandre, Spain
”for a creative poetic writing which illuminates man's condition in the cosmos and in present-day society, at the same time representing the great renewal of the traditions of Spanish poetry beween the wars”


1976 Saul Bellow, USA
”for the human understanding and subtle analysis of contemporary culture that are combined in his work”


1975 Eugenio Montale, Italy
”for his distinctive poetry which, with great artistic sensitivity, has interpreted human values under the sign of an outlook on life with no illusions”


1974 Eyvind Johnson, Sweden / Harry Martinson, Sweden
Eyvind Johnson, Sverige
”for a narrative art, far-seeing in lands and ages, in the service of freedom”
Harry Martinson, Sverige
”for writings that catch the dewdrop and reflect the cosmos”


1973 Patrick White, Australia
”for an epic and psychological narrative art which has introduced a new continent into literature”


1972 Heinrich Böll, Republic of Germany
”for his writing which through its combination of a broad perspective on his time and a sensitive skill in characterization has contributed to a renewal of German literature”


1971 Pablo Neruda, Chile
”for a poetry that with the action of an elemental force brings alive a continent's destiny and dreams”


1970 Alexander Solzjenitsyn, USSR
”for the ethical force with which he has pursued the indispensable traditions of Russian literature”


1969 Samuel Beckett, Ireland
”for his writing, which - in new forms for the novel and drama - in the destitution of modern man acquires its elevation”


1968 Yasunari Kawabata, Japan
”for his narrative mastery, which with great sensibility expresses the essence of the Japanese mind”


1967 Miguel Angel Asturias, Guatemala
”for his vivid literary achievement, deep-rooted in the national traits and traditions of Indian peoples of Latin America”


1966 Samuel Agnon, Israel / Nelly Sachs, Sweden
Samuel Agnon, Israel
”for his profoundly characteristic narrative art with motifs from the life of the Jewish people”
Nelly Sachs, Sweden
”for her outstanding lyrical and dramatic writing, which interprets Israel's destiny with touching strength”


1965 Michail Sjolochov, USSR
”for the artistic power and integrity with which, in his epic of the Don, he has given expression to a historic phase in the life of the Russian people”


1964 Jean-Paul Sartre, France
”for his work which, rich in ideas and filled with the spirit of freedom and the quest for truth, has exerted a far-reaching influence on our age”


1963 Giorgos Seferis, Greece
”for his eminent lyrical writing, inspired by a deep feeling for the Hellenic world of culture”

1962 John Steinbeck, USA
”for his realistic and imaginative writings, combining as they do sympathetic humour and keen social perception”


1961 Ivo Andric, Yugoslavia
”for the epic force with which he has traced themes and depicted human destinies drawn from the history of his country”


1960 Saint-John Perse, France
”for the soaring flight and the evocative imagery of his poetry which in a visionary fashion reflects the conditions of our time”


1959 Salvatore Quasimodo, Italy
”for his lyrical poetry, which with classical fire expresses the tragic experience of life in our own times”


1958 Boris Pasternak, USSR
”for his important achievement both in contemporary lyrical poetry and in the field of the great Russian epic tradition”


1957 Albert Camus, France
”for his important literary production, which with clear-sighted earnestness illuminates the problems of the human conscience in our times”


1956 Juan Ramón Jiménez, Spain
”for his lyrical poetry, which in Spanish language constitutes an example of high spirit and artistical purity”


1955 Halldór Kiljan Laxness, Iceland
”for his vivid epic power which has renewed the great narrative art of Iceland”


1954 Ernest Hemingway, USA
”for his mastery of the art of narrative, most recently demonstrated in The Old Man and the Sea, and for the influence that he has exerted on contemporary style”


1953 Winston Churchill, United Kingdom
”for his mastery of historical and biographical description as well as for brilliant oratory in defending exalted human values”


1952 François Mauriac, France
”for the deep spiritual insight and the artistic intensity with which he has in his novels penetrated the drama of human life”


1951 Pär Lagerkvist, Sweden
”for the artistic vigour and true independence of mind with which he endeavours in his poetry to find answers to the eternal questions confronting mankind”


1950 Bertrand Russell, United Kingdom
”in recognition of his varied and significant writings in which he champions humanitarian ideals and freedom of thought”


1949 William Faulkner, USA
”for his powerful and artistically unique contribution to the modern American novel”


1948 Thomas Stearns Eliot, United Kingdom
”for his outstanding, pioneer contribution to present-day poetry”


1947 André Gide, France
”for his comprehensive and artistically significant writings, in which human problems and conditions have been presented with a fearless love of truth and keen psychological insight”


1946 Hermann Hesse, Switzerland
”for his inspired writings which, while growing in boldness and penetration, exemplify the classical humanitarian ideals and high qualities of style”


1945 Gabriela Mistral, Chile
”for her lyric poetry which, inspired by powerful emotions, has made her name a symbol of the idealistic aspirations of the entire Latin American world”


1944 Johannes V. Jensen, Denmark
”for the rare strength and fertility of his poetic imagination with which is combined an intellectual curiosity of wide scope and a bold, freshly creative style”


1943 (No prize was awarded.)


1942 (No prize was awarded.)


1941 (No prize was awarded.)



1940 (No prize was awarded.)


1939 Frans Eemil Sillanpää, Finland
”for his deep understanding of his country's peasantry and the exquisite art with which he has portrayed their way of life and their relationship with Nature”


1938 Pearl Buck, USA
”for her rich and truly epic descriptions of peasant life in China and for her biographical masterpieces”


1937 Roger Martin du Gard, France
”for the artistic power and truth with which he has depicted human conflict as well as some fundamental aspects of contemporary life in his novel-cycle Les Thibault”


1936 Eugene O’Neill, USA
”for the power, honesty and deep-felt emotions of his dramatic works, which embody an original concept of tragedy”


1935 (No prize was awarded.)


1934 Luigi Pirandello, Italy
”for his bold and ingenious revival of dramatic and scenic art”


1933 Ivan Bunin (stateless domicile in France)
”for the strict artistry with which he has carried on the classical Russian traditions in prose writing”


1932 John Galsworthy, United Kingdom
”for his distinguished art of narration which takes its highest form in The Forsyte Saga”


1931 Erik Axel Karlfeldt, Sweden
”The poetry of Erik Axel Karlfeldt”


1930 Sinclair Lewis, USA
”for his vigorous and graphic art of description and his ability to create, with wit and humour, new types of characters”


1929 Thomas Mann, Germany
”principally for his great novel, Buddenbrooks, which has won steadily increased recognition as one of the classic works of contemporary literature”


1928 Sigrid Undset, Norway
”principially for her powerful descriptions of Northern life during the Middle Ages”


1927 Henri Bergson, France
”in recognition of his rich and vitalizing ideas and the brillant skill with which they have been presented”


1926 Grazia Deledda, Italy
”for her idealistically inspired writings which with plastic clarity picture the life on her native island and with depth and sympathy deal with human problems in general”


1925 George Bernard Shaw, United Kingdom
”for his work which is marked by both idealism and humanity, its stimulating satire often being infused with a singular poetic beauty”


1924 Wladyslaw Reymont, Poland
”for his great national epic, The Peasants”


1923 William Butler Yeats, Ireland
”for his always inspired poetry, which in a highly artistic form gives expression to the spirit of a whole nation”


1922 Jacinto Benavente, Spain
”for the happy manner in which he has continued the illustrious traditions of the Spanish drama”


1921 Anatole France, France
”in recognition of his brilliant literary achievements, characterized as they are by a nobility of style, a profound human sympathy, grace, and a true Gallic temperament”


1920 Knut Hamsun, Norway
”for his monumental work, Growth of the Soil”


1919 Carl Spitteler, Switzerland
”in special appreciation of his epic, Olympian Spring”


1918 (No prize was awarded.)


1917 Karl Gjellerup, Denmark / Henrik Pontoppidan, Denmark
Karl Gjellerup, Denmark
”for his varied and rich poetry, which is inspired by lofty ideals”
Henrik Pontoppidan, Denmark
”for his authentic descriptions of present-day life in Denmark”


1916 Verner von Heidenstam, Sweden
”in recognition of his significance as the leading representative of a new era in our literature”


1915 Romain Rolland, France
”as a tribute to the lofty idealism of his literary production and to the sympathy and love of truth with which he has described different types of human beings”


1914 (No prize was awarded.)


1913 Rabindranath Tagore, India
”because of his profoundly sensitive, fresh and beautiful verse, by which, with consummate skill, he has made his poetic thought, expressed in his own English words, a part of the literature of the West”


1912 Gerhart Hauptmann, Germany
”primarily in recognition of his fruitful, varied and outstanding production in the realm of dramatic art”


1911 Maurice Maeterlinck, Belgium
”in appreciation of his many-sided literary activities, and especially of his dramatic works, which are distinguished by a wealth of imagination and by a poetic fancy, which reveals, sometimes in the guise of a fairy tale, a deep inspiration, while in a mysterious way they appeal to the readers' own feelings and stimulate their imaginations”


1910 Paul Heyse, Germany
”as a tribute to the consummate artistry, permeated with idealism, which he has demonstrated during his long productive career as a lyric poet, dramatist, novelist and writer of world-renowned short stories”


1909 Selma Lagerlöf, Sweden
”in appreciation of the lofty idealism, vivid imagination and spiritual perception that characterize her writings”


1908 Rudolf Eucken, Germany
”in recognition of his earnest search for truth, his penetrating power of thought, his wide range of vision, and the warmth and strength in presentation with which in his numerous works he has vindicated and developed an idealistic philosophy of life”


1907 Rudyard Kipling, United Kingdom
”in consideration of the power of observation, originality of imagination, virility of ideas and remarkable talent for narration which characterize the creations of this world-famous author”


1906 Giosuè Carducci, Italy
”not only in consideration of his deep learning and critical research, but above all as a tribute to the creative energy, freshness of style, and lyrical force which characterize his poetic masterpieces”


1905 Henryk Sienkiewicz, Poland
”because of his outstanding merits as an epic writer”


1904 Frédéric Mistral, France/ José Echegaray, Spain
Frédéric Mistral, France
”in recognition of the fresh originality and true inspiration of his poetic production, which faithfully reflects the natural scenery and native spirit of his people, and, in addition, his significant work as a Provençal philologist”
José Echegaray, Spain
”in recognition of the numerous and brilliant compositions which, in an individual and original manner, have revived the great traditions of the Spanish drama”


1903 Bjørnstjerne Bjørnson, Norway
”as a tribute to his noble, magnificent and versatile poetry, which has always been distinguished by both the freshness of its inspiration and the rare purity of its spirit”


1902 Theodor Mommsen, Germany
”the greatest living master of the art of historical writing, with special reference to his monumental work, A history of Rome”


1901 Sully Prudhomme, France
”in special recognition of his poetic composition, which gives evidence of lofty idealism, artistic perfection and a rare combination of the qualitites of both heart and intellect”