maio 02, 2006

Silvério e a Rosa

Silvério acordou naquele dia com um sorriso nos lábios. Tudo estava vibrante, até mesmo aquela manteiga rançosa parecia agora deliciosa como nunca. O sol tinha um brilho especial, estava com um tom alaranjado forte. O ferro de passar estava a todo vapor, afinal ele estava saindo para encontrar aquela que já significava mais do que tudo de valor que ele possuía, era seu grande amor. Foram tantas conversas por email, msn, webcam, telefone, ufa! Claro que muitas pessoas falam que isso tudo é furada, mas não com Silvério. Ele tinha certeza que encontrara algo definitivo e que mudaria sua vida. A Rosa. Não era simplesmente um nome, era um perfume que Silvério já sentira à distância e se embriagara durante meses.

Agora é sério, Silvério está dirigindo seu carro, um fusca que ele comrpou de segunda mão especialmente para causar a melhor das impressões para sua amada. Não que ele a achasse interesseira, jamais, apenas queria poder desfrutar com ela os mais gostosos momentos com passeios de carro, fazer lindas viagens. Ah, o amor...

Chegando à cidade onde Rosa morava, parou numa floricultura e comprou o mais belo buquê de rosas vermelhas que ele podia pagar. A vendedora, muito tímida, magrinha, feinha, mirradinha (muito diferente da exuberante Rosa, pensou Silvério) lhe lançou um sorriso e um olhar penetrante, que encheu Silvério de orgulho mas não foi capaz de tirá-lo de seus objetivos, nunca, imagine!

Mas Silvério estava tão ansioso que resolveu chegar primeiro ao endereço da residência de Rosa, em baixo do prédio e ver onde sua amada morava, antes de se dirigir ao restaurante onde marcaram o grande e primeiro encontro. Saiu do carro e ficou escondido atrás de uma árvore, em direção à entrada. Fitou de longe aquela construção elegante, olhou todas as janelas ansiando ver sua amada pousada no parapeito de alguma delas. Nisso vê uma moça saindo do prédio, era ela. Sim, era a sua linda e amada Rosa.

Silvério reconheceu aqueles cabelos castanhos e longos, olhos grandes e a pele alva. Num ímpeto de ir ao seu encontro, Silvério parou e viu um homem barbudo se aproximando rapidamente. Não podia acreditar no que estava vendo. O homem barbudo e Rosa se beijavam apaixonadamente.

E então Silvério ficou ali paralisado sem entender nada. Tudo à sua volta girava e o sol perdera a cor. Seu corpo tremulo o avisara que era hora de partir, sumir, esquecer quem ele era. Correu para o carro e dirigia para não sei onde. Resolvera passar pelo restaurante, ainda tinha o endereço no bolso da calça. Com suas mãos suando frio dirigia mecanicamente aquela máquina que era a única coisa que parecia ainda ter vida naquele momento. Parou em frente ao restaurante e ficou olhando para o nada. Nisso vê uma moça se aproximando da porta de entrada apressada. Ele já vira tal moça antes, ficou curioso. Resolveu sair do carro e ir atrás dela, mas ela já entrara no restaurante. Silvério foi atrás, entrou no estabelecimento e reconheceu a moça da floricultura que já estava sentada à mesa perto de uma janela.

Ele não sabia mais o que estava fazendo ali, mas resolveu sentar-se e interpelá-la, estava confuso e curioso. A moça lhe contou que ela era a Rosa com quem ele trocara todas as cartas e emails e que a moça da webcam é que era sua irmã, quem ele vira beijando o barbudo. Como entender aquilo, pensou Silvério? Não sabia se ficava enfurecido ou agradecido, ao mesmo tempo não sabia se realmente se alegrava por estar ali. Estava tonto. A Rosa não era a Rosa e ao mesmo tempo era. A moça que estava à sua frente falava-lhe tão doce, exactamente como na troca das correspondências e ao telefone, mas confessava que teve medo dele se decepcionar com sua aparência, por isso pediu ajuda de sua irmã Célia.

Após alguns minutos de conversa, Silvério estava se sentindo outro, percebeu finalmente que sua Rosa estava ali, apenas não tinha a aparência que ele imaginava, mas sua voz suave e mansa, suas palavras adocicadas davam nova tonalidade alaranjada aos raios de sol que insistiam penetrar pela janela do restaurante.

O tempo passou e num dia de outono, porém de sol, Silvério e Rosa comemoram 50 anos de casados. Célia, irmã de Rosa, orgulhosa da felicidade de sua irmã, cunhado, sobrinhos e sobrinhos-netos, conta a história dos dois ao microfone no salão de festas do clube da cidade. Ao final, os quatro filhos e 8 netos do casal se aproximam de Silvério e Rosa, cada um com um buquê de rosas vermelhas. Silvério levanta-se com dificuldade e sem ajuda de texto pronto se dirige ao microfone e, num discurso emocionado, diz ao final: "O amor é como um raio de sol, mesmo que não se queira enxergá-lo, ele existe e se fará presente; basta você deixá-lo entrar".

Por Christina M. Herrmann

1 Comments:

Blogger Unknown said...


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