março 16, 2006

Um homem com uma teoria está perdido

«"Um homem com uma teoria está perdido. Tem de ter várias, quatro, muitas! Tem de as enfiar nos bolsos como jornais, sempre as últimas, vive-se bem entre elas, é agradável morar entre as teorias. Convém saber que há muitas teorias para chegar ao topo, a árvore também tem várias mas segue só uma delas, durante algum tempo." - escreve Brecht em 9 de Setembro de 1920 no diário. Com os jornais e a árvore como imagens da cidade e da natureza, Brecht define o espírito dinâmico, flexível e aberto que pretende imprimir ao seu modo de pensar e sentir, escrever e agir. Anotada ao sabor do correr dos dias da escrita diarística, esta reflexão do ainda jovem autor revela já traços que irão marcar o conjunto diversificado dos seus múltiplos trabalhos futuros: a capacidade de se dedicar a vários projectos ao mesmo tempo e de os questionar e reformular com frequência, a atitude crítica face à tradição e aos sistemas de ideias feitas, a atenção às circunstâncias concretas e específicas do mundo em volta, o culto do que é provisório e mutável, fragmentário e ocasional.»

da Introdução de Vera San Payo de Lemos in Teatro II - Bertolt Brecht